sábado, 25 de janeiro de 2014

REGENERAÇÃO

Eram dias em que haviam sobre minha cabeça densas nuvens, e um pensamento recorrente, racional, que perguntava o tempo todo, aonde estava Deus, veladamente o duvidei. Que dias!!
Foi então que sobre meus olhos saltaram o real, concreto e verdadeiro; as lembranças.

Lembrei que a minha primeira amiga, me protegia de tudo, que quando a gente jogava jogos, ela me dava as cartas por debaixo da mesa, pra que eu pudesse ter a chance de ganhar, e que ela sempre me livrava das enrascadas que a minha inocência me metia, depois de outros amigos que me faziam sentir popular (coisa que eu nunca fui), que nunca me deixavam fazer nada muito errado. Depois de outra amiga que eu podia compartilhar tudo. E de pessoas que me fizeram grandes elogios, imensos abraços, lembrei de uma a uma, cada um que passou, com seus sorrisos, com o carinho, com os presentes, com as lindas palavras que ja tive oportunidade de ouvir, e muitas vezes não mereci. Foi evidente, nunca sai de um lugar se quer, sem levar ao menos um amigo.

Presentes recebidos, memórias, que ficam guardadas no coração, dos apelidos carinhosos, eu jamais esquecerei, de gente que apertava meu queixo, gente que foi brisa leve em dias de temporal, que foi chão em dias de terremoto. Lembrei do meu pai me ensinando golpes para me defender dos perigos masculinos, e da minha mãe cuidando de cada passo meu, dos leites quentes em noite de frio, dos bons conselhos, dos colos; e do meu avô que me dizia "nunca se case com um japonês" e que me ensinava como eram as coisas a moda antiga, de quando ele tirava sarro da minha cara e me dava apelidos. Lembrei de passo a passo dos meus passos, de como foi difícil, a caminhada, mas que sempre teve um oasis no meio e meus desertos. Quis por um instante abraçar todos esses que estão em algum canto por aí. Mas senti que era regeneração dentro de mim, era quase uma ressurreição que desabrochava a fé e a esperança. Era uma separação de trigo e joio, da menina que me deixava  e a mulher que parecia agora mais forte em mim. Era uma desconhecida que queria sair para fora, e conhecer seu rumo, desbravar horizontes. E ela me empurrou, e pediu perdão as meninices, e foi com coração grato que ela fez reverência ao Deus que lhe pôs lindas pessoas em seu destino e fé para vencer seus limites, e continuar, sempre, sonhar. Venceu seus próprios demônios!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Quimera

Venho nesta quimera cometer assassinato, não sou inocente é verdade, que é pura maldade comigo mesma. Como astronauta perdida no espaço saltando no ar, perdi a sanidade, por só querer-te.
Odeio-te, odiarei as suas entranhas estranhas que não encontram meu olhar, e sei que no fim vou odiar-me mais, por não conseguir nem se quer por um instante odiar. . .

Investi todo meu empreendimento comprei um lote na lua, pra ver se há alguém perdido por lá que também tenha esse olhar, gastei!

Estive cansada demais pra alguma coisa inventar, pra procurar, pra ajeitar que eu posso mais fazer? Latente!
É culpa dessa minha fé descabida, desenxabida que insiste em acreditar, sempre e tanto, que mesmo em pranto, me faz falar, eu disse a ultima e olha eu cá, seguro-me e esbarro nessa viagem que é o otimismo exagerado, desenfreado, que faz o que é ruim sempre passar, e passa, mas eu passo, e passo muito devagar. Preguei muito apego, é erro de não me arrepender se quer por um instante?

E porque estou muito entrelaçada com Deus, que continua a sonhar, pescando a esperança, para todo dia pensar, onde vou parar? Ai paro e reparo em outros lugares, em outros rumos a seguir, e penso esse ciclo vai ter que terminar, rápido por favor! Alguém por aí, chame os conselhos sábios do meu avô!!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

FRUTO PODRE

Ontem  alguém me perguntou qual motivo para não comer mais manga, uma vez que quando eu cheguei na cidade eu amava, não respondi, pois pareceria loucura essa história que vou lhes contar. É uma história que acontece com frequência por aqui.

Era um pé de manga alto e muito frutífero, suas mangas rosadas e grandes, bem saborosas. O desejo de toda manga por ali era ser comida e saboreada por um humano, pois em sua visão era a finalidade única de sua existência, então toda vez que alguém passava por ali elas ficavam "hei, psiu, oooi" na tentativa de chamar a atenção, e a manga escolhida sempre era invejada. Mas naquele pé tão robusto e formoso, havia uma manga diferente, que gostava de ficar acordada as noites e dormir durante os dias, não queria ser comida de ninguém, ela queria descobrir o mundo lá fora, e de noite ela se sentia mais viva, ela gostava de saborear a luz do luar o brilho das estrelas, e o sol pela manhã lhe incomodava. Suas companheiras, pela manhã começavam tagarelar, "manguinha preguiçosa hein, acorda tarde, não faz menor esforço pra ser saboreada", e riam "vai apodrecer aí hein, hahaha". E ela costumava pensar no que acontecia depois que um fruto apodrecia, no que acontecia depois que eram comidas, era só isso mesmo que o destino lhe reservou? Ser comida ou apodrecida?

E uma noite de verão, em que o céu estava muito bonito e todas as suas companheiras dormiam, cansada da solidão de ser diferente, pensou, "vou me atirar no chão, vou conhecer o mundo, é hoje", mas a boba, decidiu conversar com uma manga mais velha que estava no mesmo pé, e a resposta foi: "você esta ficando maluca, preste atenção você é bonita, vistosa, suas chances de se dar bem nessa vida são muito maiores que as minhas que sou pequena e estou ficando velha, acalma menina jovem".
Mas era uma manga voluntariosa, e ela sabia que não podia continuar com suas duvidas queria arriscar, virou-se para um lado, depois para o outro e ficou retorcendo o ramo verde que a prendia, "hmmm, vamos solte", e os ventos do destino pareciam ajudar, soprando com força sobre ela, caiu estabacada, "ploc" fez o barulho de suas novas rachaduras, já era de manhã.

E ela tentava se arrastar para ver o que tinha lá fora, e escutava de vez em quando alguém dizendo, "coitada, fruto podre né, cai do pé sozinha", e lá vinha um humano passando, "não me coma, não me coma, por favor", era uma criança, e disse "olha uma manga, vou chupar"; e a humana maior disse "nãão, Joazinho, essa manga esta podre não vê, olha só pra ela, não serve de nada", então o garoto saiu chutando a pobre manga, "e lá vai ele, oooou, corre pra lá chuta pra cá, é gol, é gol, goooool ééé´do Brasiiiil" arremessando a pobre manga contra parede em um só golpe. "Aiaiai, isso dói", então ela se viu sem casca toda melequenta, e disse "acho que estou sangrando, será que estou apodrecendo"?, e lá ficou pensando em como faria para ir a outros lugares, mas não estava sendo fácil para ela, de repente um exército de formigas se aproximava, e ela assustada gritava "hei, hei onde vocês vão? o que estão fazendo?" a formiga maior disse, acalme-se estamos cortando seus cabelos, e vamos levar para casa, é nosso trabalho", ela pensou consigo mesmo, "nem sabia que eu tinha cabelos, não hão de me fazer falta", ficou quietinha, deixando as trabalhadoras fazerem o serviço sem muito questionar, ela começava a se sentir aliviada depois de um longo dia.

Agora era uma manga seminua, alias ela nem parecia mais com uma manga, era um caroço apenas, ela pensava "qual será meu fim não tenho mais força para rolar, será que vou ficar aqui para sempre, não seria melhor ter sido comida?" ela estava se sentindo arrependida. E na fria noite veio sobre ela águas torrecenciais e ela ria com cada pingo que lhe fazia cocegas "hahaha, vá de vagar, estou peladinha, hahahaha"; e sossegou em plena luz do dia pode dormir pela primeira vez em sua curta vida, sem que ninguém tirasse sarro, sem ninguém para satisfazer, não se importou com a solidão. Quando acordou percebeu que havia um manto de terra sobre ela, ela estava quase totalmente encoberta, fez força para sair, mas foi inútil e chorou, tanto que novamente adormeceu.

Alguns dias de agonia se passaram, tenatando sair debaixo da terra, e quando ela acordou respirou um ar diferente, virou para um lado depois para o outro e notou como qualquer vento a movimentava "Que estranha estou", "Meu Deus, estou magra e comprida, esticada, pareço uma...não, não é possível, estou virando um galho de árvore?". E sim era possível, ela estava virando uma bela árvore, que devido aos tempos chuvosos crescia rapidamente, fazendo-a sentir se forte e bela todos os dias, e contente com cada centímetro que crescia, pois a cada conquista via o mundo de uma nova perspectiva e novas coisas descobria. Até que chegado o dia, começou a florescer, eram muitos elogios que lhe faziam, "que pé bonito, vai dar boas mangas", alguns casais que passeavam no parque se beijavam encostado em seu tronco, outros deixavam sua marca nela, e ainda havia gente que voluntariamente lhe abraçava, fazendo a se sentir importante e parte de tudo aquilo, outros diziam "ah eu amo essa mangueira, sombrinha boa, com rede presa em seus galhos". Satisfeita respirava contente, e mandava um ar puro de alegria sem saber exato o bem que estava fazendo, e foi então que um dia percebeu que seu primeiro fruto estava crescendo, ainda era uma manga jovem como ela foi um dia, verde e sem boa aparência, mas ela sabia que não demoraria muito pra que ela pudesse crescer.

Era uma mangueira agora, robusta, formosa e podia dormir e acordar quando quisesse para sempre, e pensava: "não meus frutos não vão ser comidos", balançando-se com fortemente, para ver se os derrubava, para lhes dar a chance do mesmo destino, mas conforme o tempo foi passando ela ouvia o mesmo diálogo do seu pé original, qualquer humano que passasse: "oiii, olha eu aqui", e nenhuma só manga desejava se desprender, ninguém que pudesse pensar diferente, ninguém que almejasse outro sonho, ou questionasse o acaso e o destino, morriam de medo de ficar podre e cair no chão, a mercê de qualquer rejeição. Foi quando por um momento lembrou-se do passado, e pensou ter feito errado, deve ser melhor ser comida, vez em quando ouvia algumas mangas contando sua história "era uma manga preguiçosa, ela vivia querendo dormir pelas manhãs, a vida né, a vida se encarrega de tirar os frutos podres do pé, nunca precisamos fazer esforço nenhum, fruto podre cai sozinho", despertando a ira daquela mangueira e fazendo pensar sobre o destino. Ela ficava pensando, o que eu teria sido dela se seguisse o destino original foi quando um dia a confirmação chegou. Então um dia viu um mocinho, o mesmo rapaz que um dia brincava com ela de jogar futebol, era um menino levado, e estava um pouco mais crescido, mas ainda era pequeno, ele estava arriando suas calças, com cara não muito boa, e logo o odor fétido subiu as suas narinas, "humm que coisa podre o que será que está fazendo, pensou, coisa boa que não é"; e la vinha a mãe do moleque, "Joazinho, aí não é lugar menino, que horror", ele com cara de choro disse "mãe não consegui segurar, doía minha barriga" e então veio a resposta de todas as suas perguntas "Também, você fica ai o dia inteiro comendo mangas, ta aí o resultado, deve ser que alguma lhe fez mal e seu corpo tratou de expulsar".

Como se alguém lhe balançasse ela pensou "Oh, que nojo, eu iria virar isso?", sorriu de suas amigas que tanto lhe criticavam como se a natureza tratasse de vingá-la, olhou por cima de sua copa e avistou tanta coisa bela, tantas paisagens, o céu bonito, os elogios que recebia, e orgulhou-se de sua coragem, lembrando dos momentos mais difíceis de sua longa jornada, estava feliz, ela queria frutificar por centenas de anos, o mito sobre as frutas podres era bem maior do que sua reputação, mas era com alegria que ela alertava, "vire árvore é melhor que virar uma cagada". A boa mangueira era uma planta bem sucedida, e feliz só por ser aquilo que era, aquilo que um dia bem quis.

E quando eu vejo manga meus caros, me lembro que ela pode desejar ser algo mais, e é por piedade que as deixo em paz.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Caspitaislismo

Aos de hoje que não vem de navio negreiro, e com sua alforria conquistaram seu salário de fome, alguns de até barriga cheia. E são os finais de expediente que me fazem repensar, no que esses homens estão a perder a conquistar, para traz ficam seus sonhos, seus amores, as coisas que realmente lhes importam, e não sabem. Pobre desses homens que passam a vida colecionando suas derrotas pela chance de quem sabe bem aposentar. Pobre, daqueles que tentam enriquecer, o preço que pagam é alto de mais.

Eu me lembro dos meus chinelos, sou apaixonada por chinelos, e lembro de como ele se importava, incomodava, suas unhas, meus chinelos, você queria ficar rico e eu apenas ser feliz com meus chinelos, você dizia que eu era insana e sonhadora, que eu precisava acordar pra realidade, abra os olhos veja a verdade e no apocalipse disse-me que jamais encontraria ninguém igual. Mas eu achava que você vendia colchoes pros outros descansar, e mesmo assim eu nunca quis mudar nem um fio daquela sobrancelha perfeita que tanto lhe importava, por mim que fosse seu. E pobre de você que não lia livros, que pouco viaja, que prefere pessoas importantes a bons amigos. E pobre de mim, que a sei a que vim, vim pra ser feliz e espalhar poesia, não posso morar nesse lugar.

Nas lavoras os trabalhadores plantam e não podem colher, semeiam e para quem? Quando foi que os nativos das terras perderam assim? Quando foi que eles pararam de viver? Sem pesar eu lhes pergunto, quando foi que embruteceu seu coração, quando é que o gênero virou competição, mesmo tendo cada um sua função, quando foi que o sexo fez sentido sem amor, e porque os dias são mais belos que as noites, quando foi que o gosto pelas coisas virou desimportante? Me diga, me explique, quando foi que eles se esqueceram do que gostavam de fazer?

Em tempos de afinidade com sistema, é que me firmo, e afirmo, ser apaixonada pelo que se faz, sobretudo pela vida soa como crítica social.

domingo, 19 de janeiro de 2014

AMOR

Outro dia estive colocando em letras os motivos pelo qual estou desacreditada do amor, esses são verídicos e não me desfiz daquelas teorias banais que criei em minha vã filosofia de uma escritora desconhecida e sem crédito algum para ditar ou criar qualquer regra, apenas aos que forem capazes de compreender e concordar, agraciados sejam estes que sabem entender.

Mas estava falando com um rapaz e ele disse não acreditar no amor, e eu como uma romântica/otimista incansável e imbecil que sou, defendi com unhas e dentes o provável sentimento que segundo ele é uma criação humana para satisfazer o ego feminino, ele foi ao dicionário e me mostrou a definição fria que aquele apanhado da língua portuguesa tinha pra exemplificar ou explicar o que não tem explicação continha num breve parágrafo sobre algo muito mais profundo que todas aquelas folhas jamais conseguiriam sequer chegar perto de qualquer menção ao que ele realmente representa. E ele me disse pois então o que amor? E eu tentei responder de uma maneira racional, que era aonde a conversa nos levava, falei que não era um sentimento, mas uma atitude de extremo nível, que faz você renunciar os seus desejos e instintos em benefício de alguém, não que você se anule, mas que faz com que você sinta que é mais importante fazer algo por essa pessoa, do que naquele momento por você. E nada ele disse que isso era carnal, mera vontade satisfação sexual, desisti.

E é por isso que vou descrever o amor na minha linguagem, emocional, saí desse papo imoral que é o racionalismo, o amor é mesmo coisa irracional, de patifes e patetas burros que são fisgados.
 Amor é quando paira uma nuvem sobre sua cabeça e fica jogando pequenas gotas refrescantes sobre você enquanto senta na varanda ou a beira da calçada a fazer o pensamento divagar por aí com destino certo, amor é estado de purificação interna, são raios de sol que atravessam o o ser humano, que o despedaçam por completo e o fazem sentir inteiro, tornando o sorriso dele parecer um farol no meio da escuridão, é quando qualquer lugar que outrem esteja seja o melhor para ficar, quando olhares se encontram e conversam sem precisar falar, quando o toque mexe com as batidas do coração, amor é quando a pessoa é mais importante que o programa favorito da televisão, ou quando um convite dela muda toda sua programação, é quando você acha a melhor companhia, amor é como caminhar sobre o vento sem sentir medo de se deixar levar.

Comparo o amor a um laço feito de fita de cetim, presa a duas cinturas feito a nó, é fácil de sair, mas talvez seja melhor ficar, é livre, é suave e leve, é um nó que une mas não precisa aprisionar, de amor eu já aprendi até fingir ciumes pra fazer contentamento em outro coração, o amor ensina como também faz doer, pois o cetim é muito frágil e aspira grandes cuidados, pra não se desfazer. Amar é como mergulhar nas profundezas e descobrir um tesouro que não tem valor sólido, disse Camões que é "fogo que arde sem doer", Vinicius de Moraes falou que "era eterno enquanto durar, posto que é a chama", Drummond que "é estado de graça, e que amor com amor se paga", Paulo de Tarso foi mais fundo e disse que "tudo sofre, tudo crê, tudo suporta, tudo espera, e que nunca acaba". Ha quem queira saber qual a minha opinião, lhe digo, o amor é fogo que faz a chama mortal da vida se tornar eterna, ainda que o amante morra, este vai ser sempre lembrado pelas coisas que amou e desamou, pelas pessoas que o seu amor impactou, e portanto o amor é eterno enquanto a lembrança durar. Portanto o amor não é sentimento estático mas o que move sua vida em agum sentido, é que o te faz perder o medo de se perder e assim conseguir se encontrar.