sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Quintas e sextas entre outros e outras.


Lá estava ele, no bar, com seu copo na mão e eram imensas mãos de macaco fazendo parecer o copo bem menor do que suas proporções reais, pele cor de jambo. Ele se levantou do meio da sua matilha e por 10 segundos olhos no fundo dos meus olhos, sorrindo com o canto esquerdo da boca, não sei se era um sorriso, bem, ele esticou os lábios, e deixou-os tortos em minha direção, só poderia ser para mim.

E lá se foi andando, em outra direção, exalando sua testosterona idiota que me fazia mexer nos cabelos e limar olhares sem querer. Acho que o bar parou por alguns minutos com seu passeio colossal, então ele foi se movendo a fora, como o macho alfa, que queria mostrar que era, fiquei esperando a hora que ia erguer a perna e urinar em algum canto de uma árvore, mas não, ele apenas mostrou todo desinteresse com local ou com as pessoas. Embora eu achasse que uma daquelas panteras seminuas pularia em seu pescoço e o devoraria sem que ele fizesse menor esforço, impressionante como eram produzidas em série, deslumbrantes e sensuais, até o jeito de segurar seus copos alcoólicos, iguais, assim com pulso para baixo e o dedo indicador pouco inclinado para cima o que dava impressão charme, e entre altas risadas e reverencia a bebida parecendo boas companheiras para noite, ou para vida inteira como talvez quisessem mostrar, mas ele parecia não notar, apenas estava ali, como a parede e a decoração ambiente estavam, o que me fez admirá-lo ainda mais.

E com passos fortes, retornou a mesa, parou por mais alguns segundos o olhar nos meus, fazendo minhas companhias femininas entrar em um quase colapso, entre gritinhos finos e uivos alguém me disse "sorria, querida" já era tarde ele estava sentado a sua mesa, com seus ombros gigantes desenhando seu pescoço, que parecia um tronco de arvore desbotado. "Vou ao banheiro". Passei bem rápido para não parecer óbvia, e por entre meus finos e longos fios de cabelos vi aquele amontoado de bíceps, tríceps e sei lá mais como chamam, mexendo, sou louca, corri banheiro a dentro.

Olhei no espelho e vi que estava tudo nos conformes, apenas aquela minha cara de sempre, pouca maquiagem e um cabelo que não era nem liso nem cacheado, nem loiro nem moreno, magra, mas nem tanto, alta, e com preguiça de usar saltos, por  instantes me arrependi dos trajes, minha calça era meio desbotada o que me pareceu desleixo naquele momento, já que não me parecia com ninguém que estava ali, mas mesmo assim eu me sentia muito bem.  Coloquei todo cabelo, que não era pouco, só de um lado e respirei fundo e lá fui, entre um pequeno sorriso sai, o bando deles era barulhento. Passar por eles foi como estar do outro lado de uma parede tentando ouvir uma conversa secreta de cochichos alheios, mas eram altas risadas e meios palavrões, para provar que eram todos másculos o suficiente.

E dali a algum pequeno espaço de tempo sua armadilha lançada, de novo em pé, agora eu dei uma longa risada, a lua se apagou mais uma vez para mostrar o brilho do rosto torto dos olhos fortes, da altura bem elevada, porque será que ele precisava de tantos atributos,  todos juntos em só corpo, era por acaso algum nelore, deve ter algo de errado, deve ser mudo, meio surdo, falar apenas em inglês, ou ser um desses a procura de uma burra de fácil manipulação, pensei comigo, com certeza, são apenas músculos fabricados em alguma academia, na certa só fala sobre futebol, mulheres e carros de motor ensurdecedor, vai procurar uma fêmea que lhe mostre o quanto ele é bonito, sedutor e inteligente, não pelo excesso de bagagem cultural dos livros lidos, mas pela falta dela, dando a chance de seu ego crescer um pouco mais, mais?

E enquanto meus olhos estavam distantes a pensar nessas tolices todas, sem ao menos dar a chance daquele pobre sujeito se argumentar exalei todo meu preconceito baseado nas experiências anteriores, mas ficou só em minha mente, ele estava próximo, causando grande alvoroço nas cadeiras ao meu lado, trouxe-me uma bebida forte dessas que não bebo, pensei em aceitar, mas como de costume fui o que sou, pois nunca soube ser outra coisa, continuei bebendo de canudo.

Enquanto ele falava seus lábios grossos e de alguma cor que nunca vi em pantone  algum, seus olhos eram estrangulados entre suas maças perfeitas, olhos tristes de um cachorro quando pede algo no pé da mesa, o que me fez ter vontade de fazer algo por ele, pois olhando nos olhos dele parecia um solitário da noite era olhar triste, pensei que ele fosse chorar a qualquer momento, eu fiquei esperando lágrimas dos seus olhos famintos, não pude fazer nada, nem ao menos consolar, mal podia falar, estava atenta a todos os detalhes, suas mãos quentes passavam várias vezes no jeans escuro que encobria as pernas que sustentava tudo aquilo, e uma só mão dele daria volta no meu rosto inteiro, acho que não uma vez só, ele poderia me esmagar com aquelas mãos de macaco em um só golpe, me senti frágil perto da sua voz grossa, rugido de um leão, o ar que ele respirava era mais pesado que o meu, pois os peitos dele se enchiam muito mais alto que o comum, e ele ali sentado no banco de algum bar com uma bebida cara na mão tentando me convencer de alguma coisa que nem sei bem o que era, mas que fazia parecer toda aquela cena de filme que sempre acaba no mesmo lugar, eu já tinha lido ele e dessa vez não era preconceito, era forte como um touro, e sua manada estava ali a observar sua atuação de reprodutor, eu não sabia se agraciada era pela escolha, fiz leituras muito rápido pois estava cansada de cascas poderosas e impenetráveis dos grandes formidáveis sujeitos homens agindo como um mero representante de sua espécie, feito inteiro para perfeita sedução, eu era moça muito esperta ao meu ver, e pensei, melhor é nem pensar, só olhar o que se mostra e me contive ao interpretar, fingindo novidade seus bonitos elogios a noite seguiu em passos largos deixou telefonemas para amanhã.

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