terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O outro no teu lugar

O problema sempre foi esse, meu excesso de compreensão, desde pequena eu já tinha certo interesse nos outros. Minha mãe conta que quando eu tinha meus 3 anos, morrendo de medo do monstro meleca, no teatro, assustador, eu corri e o abracei, me lembro muito bem, que eu tinha medo dele, muito medo, mas eu ficava olhando as crianças abraçarem todos os outros personagens e artistas, e o pobre monstro sózinho, eu pensava que talvez ele fosse um monstro por isso, ninguém o abraçava, ninguém compreendia suas dores e seus defeitos, talvez só o desprezo tenha feito dele uma pessoa pior, e isso superava meu medo, corri e abracei, onta minha mãe que ele se emocionou, que todo mundo achou bonito, eu não me lembro de mais nada além da pena que eu sentia dele e de como acreditei na minha teoria. Outra vez foi com um homem do saco, que bateu a minha porta, e eu quis conversar com ele para saber o que ele queria ou porque ele era meu inimigo; minha irmã saiu me arrastando pela varanda devido a tamanho perigo. Na escola, as minhas amigas sempre foram aquelas que mas sofriam "Bulling", eu era simpática, mas era a magricela CDF, que tirava nota boa e amava ler e estudar, e brigava por justiça, a típica chata que toda sala tem, as populares me odiaram, só pela minha falta de interesse em fazer parte ad galerinha delas, ou pelo fato de existir mesmo, mas isso não me afetava tanto quanto o fato, daquelas meninas esquecidas no canto de uma sala lotada, eu gostava de ser amiga delas, de ouvir, de conversar, de fazer as tarefas delas. Já era adolescente quando comecei fazer amigos mais normais, menos problemáticos, mas ainda assim, sempre tive queda pelo esquecido.

E assim toda vez que eu ouvia uma justificativa, eu compreendia, e passava a fazer parte daquilo, depois virei uma conselheira de plantão. Achava que isso era uma qualidade boa, mesmo sabendo que as vezes eu era tola, e que na minha justiça muitas vezes fui injusta a mim. Nunca acreditei e nem consigo acreditar que monstros são só monstros, sempre pensei que o ódio é um amor ferido, acabei vendo poesia na dor alheia, sempre achei que nós foram feitos para desfazer, e muitas vezes eu acreditei que estava ali por isso, como se fosse o propósito do ser humano ajeitar aquilo que outro deixou desarrumado, como se fosse minha missão deixar um pequeno alívio aonde passar, ajudar. E que os vilões foram criados por seus próprios sentimentos mal resolvidos, sempre achei que o amor era capaz de curar qualquer mal, e que ninguém resiste ao amor, e ao privilégio de ser amado. Não é que eu seja excessivamente boa, não, jamais, tenho tantas qualidades, quanto mais defeitos para serem descritos, e se eu fosse de fato muito bondosa, teria coragem de escrever mais defeitos aqui. E não que eu ache essa uma qualidade, pois foi ele, esse meu desejo pelas profundezas dos outros que muitas vezes me fez concessiva, em detrimento do meu orgulho, ego, amor próprio. É profuso isso de entender o outro, ainda que eu esteja uma confusão, e não negue. Tenho a necessidade de falar, e quando não falo, escrevo. E as vezes escrevendo me descrevo demais, e conto os segredos, e comigo mesma me torno desleal. Talvez esse seja meu maior defeito, entre tantos outros, me colocar no lugar do outro, e colocar o outro no peito, sem nada cobrar. Tente você se colocar em meu lugar.

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