quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

GARABINITE

E logo cedo a senhora com o seu espanador e avental, adentra a sala e pergunta
 - O que você tem, está chorando?"
Respondo: - Não..
Ela diz : - É rinite?
E eu pensei em explicar, mas achei melhor dizer  - Não, é Garabinite;
Com cara de espanto pelo nome confuso que lhe lembrar qualquer coisa: - Barabi o que?;
Eu: Risos, Garabinite, é que a veia que liga coração ao cérebro inflama, e aí dá isso;
- Noooossa menina, e dói? Tomou remédio?;
Eu: - Dói, os ossos, as juntas, a medula, as veias, os nervos e tudo quanto há numa porção de ser humano, vou tomar o remédio agora.
 E comecei escrever.
- Quer que eu faça um cházinho menina?,
- Obrigada dona Tita não precisa, estou bem acredite! Logo passa.
E saiu com seu espanador colocando ordem em tudo que havia naquele lugar.

Eu queria explicar para ela, mas pensei que ela não pudesse entender, que todo artista passa por essa fase, por esses dias, os escritores, os poetas, os cantores, escultores, pintores, e todos os outros, assim como a azeitona precisa ser espremida até soltar o azeite, também ocorre com eles, são lançados contra si mesmo, esmagados, até sair sua arte, como um parto, e talvez por isso precisem sofrer. Os artistas, jorram de si, podem fingir o sofrimento e alegria nas sua arte inútil, talvez nem precisem sofrer, pois são captadores naturais de sensações, e talvez por isso sofram, isso faz deles sensíveis, as dores do mundo, aos erros, aos acertos, ao vazio do nada e ao exagero do muito.

Artistas não amam como os normais, artistas se agarram nas entranhas, no âmago, gostam das sementes, chupam até o caroço, e sim eles fazem alvoroço com qualquer fagulha, colocam-se em depressão se não puderem amar enquanto amam, amam os cílios, os pentelhos, as unhas, o cheiro dos cabelos, os dentes e as cutículas. Essa veia que me inflama, não é de doente, é inflamação de encher de ardor, de paixão, e ela irriga meu cérebro ao meu coração, num vem e vai infinito, que desaba entre meus dedos, que aflora em meus lábios. Que me faz girar, para lá e para cá, sem parar. Como um gira-sol que busca a luz, como o arco íris que envolve o céu.
Os artistas são leões que vivem como veados, como presa fácil, são misturas de carne que sangra, com alma que pulsa, de desejo que arde com sentimento que estremesse, e quando anoitece, o artista aflora, e busca em algum outro ser qualquer conexão.

São fios tecidos da aranha, ou o pólen que a abelha extrai e faz o seu mel, ou a estrela que se mata pra deixar um rastro de brilho, e ser chamada cadente, ou sorriso de olhos que não tem dentes, ou apenas qualquer expressão de um ser que ruge no latente.

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