Quando eu era criança meu pai me disse que eu comia letras enquanto escrevia.
Conforme fui crescendo passei a só comer refrão, depois comer palavras, aprendendo, comecei a comer frases inteiras, depois tive que engolir sapos, e tomar vários chás de cadeira, até que entrei no cano de tanta indigestão. Fiquei presa, mas não bati as botas, dei apenas uma de João sem braço, passei a comer livros, e a arrumar sarna pra me coçar, peguei um papel para encher linguiça, com a pulga atras da orelha, pois tenho memória de elefante, sem queimar as pestanas escrevi, reli pra não comer letras; fiz uns versinhos nas coxas. Mas não dei ponto sem nó, pedi para um amigo quebrar o galho, deixei que ele pagasse o pato, mas o tiro saiu pela culatra, ganhei um balde de água fria, perceberam minha autoria, cuspi os sapos, virei a casaca, troquei os bugalhos, e assumi, fui eu quem escrevi, dessa vez não quis tomar um chá de sumiço, assumi meu compromisso. Então acharam que era conto do vigário, eu disse que era dor de cotovelo, quem escreve é tudo farinha do mesmo saco.
Muito prazer sou eu, como letras, como palavras, como linhas, como frases, como quiser!
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